Escrito por Luiz Marins
Um dos mais interessantes livros que li nos últimos tempos foi “The Entertainment Economy How mega-media forces are transforming our lives” de Michael J. Wolf (Times Books, New York, NY, 1999).
Recém publicado, este livro nos fala que a grande geradora de emprego e renda deste século XXI é justamente a indústria do entretenimento. Michael J. Wolf é um dos mais importantes consultores do mundo do entretenimento e nos mostra com dados irrefutáveis que o homem contemporâneo está disposto a gastar cada vez mais para ter tempo livre para seu próprio conforto e entretenimento. Assim, um shopping center tem que ser a cada dia mais um centro de entretenimento além de compras. Uma empresa tem que prover espaço para que seus funcionários sintam-se “having fun” ou seja “divirtindo-se” enquanto executam suas tarefas obrigatórias. O próprio cliente escolherá para serví-lo uma empresa que lhe dê “prazer” e “alegria”.
Assim, “imaginação” será o mais valioso capital daqui para a frente. Desde a MTV, ESPN, até viagens espetaculares para lugares exóticos, shows, etc., todo o mundo se volta para o entretenimento com uma força incrível neste final de século. A cidade do mundo que mais cresce em termos econômicos é justamente Las Vegas, um centro mundial de entretenimento e só diversão em seus múltiplos aspectos, desde jogos até shows, passeios, etc. Nada mais!
As empresas que mais crescem são justamente as empresas que estão no setor de entretenimento em seus múltiplos aspectos, como Disney e, porque não, Microsoft, por exemplo.
O desafio, portanto, para empresas e empresários neste século XXI é como adicionar aspectos de entretenimento em nossas empresas, em nossos produtos e em nossos serviços. Quaisquer que sejam os produtos ou empresas, temos que agregar o “fator entretenimento” para que tenhamos sucesso. Assim, uma loja tem que ser um local agradável e que tenha “algo mais” para o cliente além dos produtos expostos, do bom atendimento, etc. Uma das lojas de moda feminina que conheço e que tem o maior sucesso, coloca à disposição dos maridos e acompanhantes revistas masculinas, de automobilismo, motos, jornais de negócio, além de café expresso, sucos, água, etc. enfim, um “canto masculino” na loja. Quando perguntei a uma cliente a razão pela qual ela havia escolhido aquela loja para comprar ela me disse: “- Venho aqui ‘estacionar’ meu marido… enquanto faço as compras que quero.”
Assim, quando você vai comer um sanduíche numa lanchonete moderna, você terá à sua disposição e de seus filhos canetas coloridas, lápis de cor e papéis para desenhar, colorir, etc. Não é mais só o sanduíche. No fundo das igrejas americanas modernas há um play ground para as crianças. A própria religião está descobrindo a importância do entretenimento. A igreja Católica está a cada dia mais alegre, por exemplo. As missas que antes eram “contemplativas” hoje são verdadeiras festas, com cantos, gestos, abraços, etc.
Até a escola, a universidade, tem que ter hoje preocupação com o “fator entretenimento”. Aulas chatas, monótonas, com professores de grande conteúdo, não resistem mais. O cliente muda de escola! Até a aula, seja de álgebra ou geometria ou de física ou química, português ou geografia ou história tem que ter “entretenimento”. Há professores que ainda não compreenderam essa nova realidade e insistem em se concentrar no “conteúdo” de suas disciplinas sem levar em consideração a “forma” de ensinar. Estamos na era de uma “didática do entretenimento”, queiramos ou não, gostemos ou não.
O ambiente de trabalho na empresa também está mudando e tem que mudar. Empresas com um clima “pesado”, não atraem mais os melhores cérebros, as melhores pessoas. As empresas de sucesso no mundo moderno estão permitindo cada vez mais que o “fator entretenimento” ocorra no dia-a-dia do trabalho. Assim, as empresas estão construindo academias de ginástica, quadras poli-esportivas, áreas de lazer e recreação para seus funcionários num ritmo nunca antes visto. Aulas de dança, torneios internos, excursões, piqueniques e até piscina estão sendo colocadas à disposição do funcionários para mantê-los na empresa. Só salário não basta! É preciso “gostar” da empresa. É preciso sentir-se num ambiente de “divertimento” no trabalho. É preciso ter “fun” como dizem os ingleses.
Isso nos leva à valorização da estética na empresa. Cores, móveis, ambientes, jardins, tudo deve ser planejado para criar um ambiente de “entretenimento”. Música ambiente, cafeterias agradáveis, amplas, iluminadas, confortáveis completam o quadro da empresa do século XXI.
Outro aspecto fundamental é o da comunicação interna na empresa. Ela deve conter aspectos de “entretenimento”. Jornais, newsletters, malas-diretas, e que tais devem conter esses fatores. A empresa deve comunicar, interna e externamente a sua preocupação com a melhor qualidade de vida de seus funcionários e clientes.
Veja os “clubes de clientes”, cada vez mais importantes no processo de fidelização dos clientes à empresa. Esses “clubes” oferecem várias oportunidades de entretenimento conhecer outros membros do clube, sentir-se membro de uma comunidade, etc. e é hoje o que faz a diferença para a manutenção de clientes em muitas empresas de sucesso.
Há pouco tempo comentávamos numa empresa multinacional que as convenções empresariais que antes eram mais para trabalhar e definir metas e objetivos, hoje são mais, congraçamento, integração, lazer, enfim, “entretenimento”! E isso não quer dizer que não sejam discutidos os objetivos e metas. A “forma” de discussão e de apresentação é que mudou. Não se pode acreditar na dicotomia entre “seriedade” e “entretenimento”. As duas coisas devem convergir. Seriedade e trabalho não devem ser sinônimos de “chatice”.
Vejam os chamados “Programas de Incentivo” nas empresas. Os que mais funcionam incluem aspectos “motivacionais” como viagens ao exterior, cursos no exterior e aspectos de reconhecimento ao mérito. Observem que o fator entretenimento está presente em quase todas as ações de “incentivo e motivação”.
As páginas da Internet mais visitadas são aquelas que oferecem ao navegador aspectos de entretenimento banners em movimento, jogos, testes de auto-avaliação, etc.
Os jornais e revistas do mundo inteiro, a cada dia descobrem mais a importância de uma diagramação alegre, colorida, inusitada, inovadora. Textos mais curtos. Informações mais rápidas. E, é claro, mais entretenimento. Podem observar!
Os hospitais modernos estão agregando em suas instalações verdadeiros centros e atividades de entretenimento. Assim há salas de jogos para os acompanhantes. Há videogames para os pacientes ficarem brincando na TV em seus apartamentos. A comida vem apresentada de maneira mais agradável, com flores. Há grupos de teatro fazendo encenações rápidas em hospitais para melhorar o “astral” dos pacientes. As cafeterias dos hospitais são tão bem aparelhadas quanto a de qualquer universidade ou grande empresa. Há música ambiente. Os corredores são amplos, iluminados. O ambiente é perfumado com essências agradáveis. O hospital de nossos avós era bem diferente, lembra-se?
Fui num cemitério nos Estados Unidos. Tinha um play ground, uma sala de estar super-confortável com uma enorme TV e fitas de vídeo de desenhos animados para as crianças, café, sucos, revistas, jornais e até uma pequena loja de conveniência com uma seção especializada em “condolências”, com flores, sistema de envio de telegramas e mensagens e uma interessante máquina em que você podia desenhar, criar a própria mensagem e enviar o seu cartão de “sentimentos”.
Assim, nada escapará ao “fator entretenimento” se quisermos ter sucesso. Daí a importância de, constantemente, estarmos nos questionando sobre o que mais fazer em nossa empresa para que esse fator esteja presente.
E a verdade é que em qualquer setor de atividade em que estejamos é sempre possível, com muita criatividade, criar elementos permanentes e transitórios de entretenimento.
Assim, repito, o nosso desafio é como colocar “entretenimento” em nosso negócio. Ou mesmo fazer do “entretenimento” o nosso negócio.
Aqui então as oportunidades são quase infinitas. Se o mundo do século XXI será calcado no fator entretenimento, imagine o que as empresas especializadas no “fator entretenimento” ganharão. Novamente o limite será o limite da criatividade humana. E a criatividade humana, você sabe, não tem limites.