Escrito por Luiz Marins
Atendendo um convite da Global Vision e da Editora Óbvio, participei do congresso Training 2000 em Atlanta, nos Estados Unidos. O congresso foi de 21 a 23 de fevereiro de 2000, teve mais de 200 workshops e uma exposição/feira com mais de 450 empresas e universidades participantes.
Tendo como conferencistas principais, Nicholas Negroponte (Fundador e Diretor do Media Lab do MIT); Desmond Tutu (Bispo Sul-Africano); Jennifer James (antropóloga) e Tom Stewart (Editor da revista Fortune), o congresso discutiu as últimas tendências para o treinamento, desenvolvimento e formação de pessoas para o século XXI.
A seguir, em forma de bullet points gostaria de citar algumas tendências que pude observar no congresso:
A internet sem dúvida veio para ficar. Não tem saída. Quase 80% dos programas de treinamento são a distância ou serão a distância dentro de pouquíssimo tempo. Tudo pela internet mais rápida, banda larga;
Quando não é via internet é através de vídeo-conferência e outros meios a distância. Não dá mais para pensar em ficar levando e trazendo participantes para salas de aula todo o tempo. As margens mais baixas dos produtos e das empresas, não permite mais o gasto com passagens, hotéis, alimentação, etc. que acabam sendo o maior custo de um programa de treinamento em sala de aula;
Isso não quer dizer que a sala de aula vá desaparecer. O treinamento vivencial, ao vivo com o professor deve continuar, porém como um complemento ao treinamento a distância;
Embora o treinamento na função, operacional obviamente deva continuar e ter grande valor, as empresas estão mais preocupadas na formação das pessoas de maneira mais integral e completa em aspectos como teamwork, liderança, supervisão eficaz, etc. Desde os últimos congressos da área que tenho participado tenho verificado essa tendência formar líderes é fundamental para o processo de mudança por que passam o mundo e as empresas;
A preocupação com a qualidade de vida no trabalho é visível a cada dia. As empresas devem ser locais agradáveis, que estimulem a criatividade e a inovação. São inúmeros os programas para que as pessoas que formam a empresa sintam-se cada vez mais felizes em seu ambiente de trabalho. Para se conseguir isso, programas criativos e inusitados estão sendo desenvolvidos pelas empresas de sucesso. Tudo isso para reter o melhores funcionários, os imperdíveis;
Essa é outra preocupação muito clara das empresas. Para conquistar e reter os melhores funcionários, a empresa deve ter um pacote muito original de benefícios que vão muito além de salários competitivos e incluem, principalmente, a oportunidade de crescimento e desenvolvimento profissional como cursos, participação em congressos, etc. e outros fatores que aumentam a empregabilidade na visão dos funcionários;
As universidades corporativas vieram também para ficar. Como um instrumento de agilizar, desburocratizar e promover com mais eficácia o desenvolvimento do capital humano das empresas, as universidades corporativas estão se tornando verdadeiras consciências críticas das empresas, preparando-as para enfrentar o futuro da globalização e da competitividade crescentes;
Outra grande tendência é de treinamentos cada vez mais curtos e concisos. São os chamados concept courses ou (cursos conceituais) que tratam rapidamente de um conceito. Ninguém mais agüenta cursos longos, chatos, complicados, com avaliações complexas, etc.;
Assim, ser simples parece também ser uma tendência clara nos programas de treinamento e desenvolvimento de pessoal para o século XXI;
Outra tendência clara é a de que é preciso realmente comprometer a alta gerência nos programas de desenvolvimento de pessoal. De nada adiantam programas desenvolvidos via RH sem o comprometimento e envolvimento pessoal e direto da alta gestão das empresas. Assim, vários programas precisam ser desenvolvidos no sentido de comprometer e envolver os presidentes, diretores, gerentes e dirigentes superiores em treinamento e desenvolvimento;
Outra grande preocupação das empresas é sobre o real valor dos treinamentos oferecidos. Eles têm que estar totalmente em linha com a rentabilidade da empresa, com seus objetivos estratégicos e agregarem valor concreto e mensurável à empresa;
Assim, os custos dos programas devem ser uma preocupação constante. Métodos e técnicas de mensuração de resultados dos programas de treinamento e desenvolvimento são um grande desafio para as empresas e devem ser otimizados a cada dia;
Para minimizar custos e aumentar a eficácia, os dirigentes devem ser treinados em coaching a cada dia mais. O acompanhamento e treinamento de pessoal no dia-a-dia, através do coaching acelera os resultados a baixo custo e compromete os níveis superiores no desenvolvimento das pessoas;
Numa pesquisa feita com mais de 100 gerentes de Recursos Humanos das empresas americanas as dez principais tendências verificadas foram (por ordem de importância na pesquisa):
1. Os custos dos programas serão cada vez mais monitorados pelas empresas e o departamento de RH será a cada dia mais cobrado pela sua eficácia junto aos resultados das empresas;
2. Medir o ROI (Retorno sobre Investimentos) será a cada dia mais importante nos programas de treinamento;
3. Processos de avaliação sistemática dos programas de treinamento serão a cada dia mais exigidos;
4. Melhor análise das reais necessidades de treinamento para desenvolver programas mais eficazes;
5. Haverá a cada dia maior envolvimento das gerências superiores no desenvolvimento e implementação dos programas de treinamento nas empresas;
6. Os programas de treinamento e desenvolvimento serão a cada dia mais linkados com a estratégia das empresas e seu futuro;
7. As empresas estarão a cada dia mais comprando o conceito de organizações de aprendizagem onde os funcionários sintam-se crescendo a cada dia e aumentando sua empregabilidade;
8. A forma de treinar está mudando rapidamente para treinamentos a distância, mais eficazes e de menor custo;
9. Os programas devem focar a cada dia mais na melhoria da performance dos funcionários;
10. O uso de tecnologias avançadas no treinamento é uma tendência irreversível internet, vídeo-conferências, TV corporativas, etc.
Uma verdade (já conhecida) e que permeou todo o congresso foi a de que a cada dia que passa fica mais evidente a realidade de que o principal asset de uma empresa é o seu capital humano. Conquistar os melhores, reter os melhores, motivar os melhores é o grande desafio. E essa tarefa não pode mais ser delegada a apenas um departamento ou um grupo de profissionais de RH. Os métodos e técnicas, o uso de tecnologia mais ou menos avançados, são apenas meios. A essência está no total comprometimento da empresa com gente o grande diferencial competitivo. É tarefa de todos os dirigentes e de toda a empresa, que quiser vencer os desafios do século XXI.
(escrito em março do ano 2000)