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  • A reunião e o poder da garrafa térmica

    Escrito por Luiz Marins

    Todos confirmaram o horário e suas dignas presenças, 08h00min em ponto!

    Eram 08h30mni e só quatro dos 15 haviam chegado…

    Às 09h00min em ponto começou a reunião. Metade não sabia de que se tratava. Os bochichos começaram para ver se alguém dali de perto sabia afinal qual era a tal da “pauta” da reunião. Quem sabia, mandava quem perguntava ficar quieto, pois o “presidente” da reunião estava “usando da palavra” (o termo mais feito que já ouvi para designar alguém falando é “usando da palavra”) e ele (arguído) estava fingindo estar interessadíssimo nas palavras do “senhor presidente da reunião”.

    Como sempre, o “presidente” abriu a reunião agradecendo a presença de todos os presentes (é outra besteira, pois não poderia agradecer a presença dos ausentes…) e pediu desculpas pelo atraso que, segundo ele (presidente), foi devido a “motivos de força maior” (taí outra coisa que eu nunca entendi, pois todo mundo sabe que o “presidente” estava mesmo era dormindo até às 08h30min. Segundo sua própria mulher, ele havia se esquecido da reunião…)

    Em seguida passou-se à “leitura da Ata” da reunião passada, que é a coisa mais chata que existe e, além de tudo, de plano, mentirosa, pois diz no final “… e que vai pelos presentes assinada” e na realidade é assinada pelos presentes na reunião seguinte não na reunião em que aconteceram os fatos supostamente relatados na dita cuja da “Ata”. O pior é que, como as assinaturas são todas ilegíveis e não batem com os nomes dos presentes segundo a Ata, a dita não serve nem para documento de posteridade, pois é tudo meio falso ou meio verdadeiro, como queiram.

    Após a leitura da Ata, sempre aprovada sem ressalvas, a não ser por um chato que tenha muito interesse em alguma coisa e que pensa que alguém no futuro lerá o que foi escrito, começa a reunião propriamente dita.

    Como ninguém ainda descobriu o assunto da reunião, nem o “presidente”, ele logo passa a palavra para os presentes. E aí começa a balbúrdia. Cada um fala de uma coisa que nada tem a ver com o restante das pessoas. E então o presidente diz: “Bom, isto poderemos tratar depois, em separado… ” e, como ele fala isto para todos, nada há que ser tratado na reunião que, ademais, não deveria ter existido, por absoluta falta de assunto.

    O pessoal então, como não sabe direito o que falar, e como ficar calado pode parecer desinteresse, já começa discordando. “Eu não concordo, pois acho isto muito temerário da parte de fulano…” e o outro diz: “Pensando bem, acho melhor adiarmos esta decisão até a próxima reunião…” e assim vão uma, duas, três e até quatro horas gastas em conversas paralelas e discussões kafkanianas que ninguém entende e nem quer entender.

    O mais interessante é quando o pessoal começa a ficar cansado de estar ali sentado. Começa a levantar e sai para um cafezinho. É só um sair, que começa a fila. E a reunião “de fato” muda de lugar. Muda para o lugar onde está a grande presidente: “a garrafa térmica”. E, se o “presidente” acha ruim e diz de falta de consideração que é essa saição toda, logo alguém retruca: “Saí por causa da fumaça que está aqui dentro e que ninguém agüenta. Saí só para fumar lá fora…” (essa é uma das únicas vantagens dos fumantes. Poderem sair das reuniões e ainda serem elogiados pelos seus companheiros: “Fez muito bem, vá poluir lá fora!!!”, diz o companheiro, que não percebeu que o cigarro foi o álibi para fugir daquela chatice de reunião).

    Bom mesmo é quando começam os telefonemas. Daí todo mundo lembra de dar um recado, de receber outro, de dar uma ordem urgente para sua secretária, etc. E muito comovente é quando um levanta e começa a limpar os cinzeiros, varrer a sala, espanar o pó dos móveis, etc. É do tipo que não agüenta ficar sentado nem mais um minuto.

    Mas, esse ainda não é o pior. O pior, o mais chato, o mais intrigante de todos é aquele que quer, por toda força, prestar atenção em quem está falando. Vá ser chato assim no inferno! É um tremendo superego! Às vezes, ele sai do fundo da mesa e se põe em pé ao lado para poder ouvir, pois lá do fundo está muito conversa”.

    E a reunião, por incrível que pareça, prossegue, com deliberações sendo tomadas a todo instante e o pobre do secretário “ad hoc” (ou haddock?), que aliás ninguém sabe o que significa, se é algum xingo ou elogio), o coitado que fica ali sentado e que, pelo menos teoricamente, deve prestar atenção em todas as baboseiras, tomando notas, para a “Ata”.

    Metade já entra não concordando no segundo tema da “pauta”, que é outro termo esquisitíssimo que se fala em toda a reunião.

    –  “Tal assunto não consta da ‘pauta’ de hoje!”

    –  Mas poderemos incluí-lo na ‘pauta’. Oras bolas, é de suma importância e interesse e vamos aproveitar que estamos aqui reunidos…”

    Isto é outra coisa que sempre me irritou. É quando se começa uma reunião, com a seguinte frase-feita: “Estamos aqui reunidos…” Ora, se estamos ali é porque estamos ali reunidos e não é necessário se ficar repetindo que “estamos aqui reunidos…” o tempo todo.

    Suspender a reunião por cinco minutos, é uma temeridade! Ninguém mais consegue arrebanhar a tigrada para voltar à mesa de reunião. O pessoal que ficou para o segundo tempo, está literalmente prejudicado, pois o pessoal se assanhou com a possibilidade de acabar com a reunião (e viu o quanto seria bom) e daí começa a acelerar tudo, até que acabe.

    E como acaba uma reunião?

    Por incrível que pareça e por mais triste, MARCANDO OUTRA!!!

    É isso mesmo. Ninguém agüenta mais aquela e marcam outra! Ë muito masoquismo! Ou sadismo do “presidente”…

    Essa é a única decisão unânime e realmente tomada por todas e ouvida atentamente. É a decisão de “marcar uma nova reunião…” E essa nova reunião será exatamente igual a esta. Será marcada para às 08h00min, todos chegarão às 09h00min, sem saber do que se deverá tratar e tudo continuará até o fim dos tempos, quando, segundo consta, haverá também, uma REUNIÃO, desta vez entre vivos, mortos, divindades… Deus queira que seja melhorzinha que as que temos aqui entre os mortais. Se não for, vou pedir… para fumar lá fora.

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