Escrito por Luiz Marins
Um dos mais importantes estudos da antropologia é o da “estética”. Os valores estéticos são considerados de suma importância para o ser humano. Assim, uma guerra só tem início depois que todos os guerreiros da tribo fizeram todas as cerimônias e pinturas corporais e colocaram os adereços próprios da arte plumária. Sem a cerimônia estética da dança, da arte rupestre, da pintura corporal, da arte plumária a guerra não pode começar. Modernamente vimos também os chamados “caras-pintadas” jovens protestando com pinturas nos rostos simbolizando sua condição guerreira, tal qual os indígenas norte-americanos.
Transpondo esses estudos para o mundo empresarial temos uma realidade semelhante, com efeitos similares.
Uma empresa mal cuidada, suja, escura, com pessoas mal vestidas, terá baixa qualidade de produtos e serviços. As pessoas “respondem” ao meio-ambiente.
Da mesma forma, uma empresa limpa, bonita, clara, iluminada, com mobiliário adequado, ar condicionado, plantas, etc. produz colaboradores preocupados com qualidade.
O medíocre popular considera a valorização estética uma “perda de dinheiro”, uma “perfumaria” desnecessária. A ignorância da magna caterva só consegue enxergar o “conteúdo” e não compreende o valor do “continente”.
O metrô de São Paulo é um exemplo emblemático dos efeitos não-lineares da valorização estética. No metrô nada pode ficar quebrado por muito tempo. Qualquer aparelho ou equipamento danificado é consertado ou é retirado do local dentro do menor tempo possível. O resultado é que o mesmo povo que destrói os orelhões, quebra as praças e emporcalha as ruas de São Paulo, protege o metrô que é considerado um dos mais bem cuidados, limpos e eficientes do mundo. Como explicar? São milhares de usuários que diariamente “conservam” o metrô, porque dele sentem orgulho. Depredam os ônibus e protegem o metrô!
A valorização estética aumenta a auto-estima das pessoas. Trabalhar num ambiente bonito, limpo, climatizado, com pessoas bem vestidas, perfumadas, etc., faz o homem sentir-se mais humano. Todos estamos buscando desesperadamente melhor “qualidade de vida”. E não há nenhuma dúvida de que a qualidade de vida para o ser humano passa necessariamente pela valorização estética.
Um dos maiores exemplos dos efeitos não-lineares da valorização estética em urbanismo é a cidade de Curitiba. A partir da valorização estética da cidade, o então prefeito Jaime Lerner conseguiu fazer de Curitiba uma outra cidade. Atraiu um novo pólo automobilístico, fez da cidade uma das mais belas e admiradas cidades da América Latina por sua “qualidade de vida” e equipamentos urbanos de qualidade. E tudo começou pela valorização estética.
O que está acontecendo, por exemplo, com Sorocaba, no interior de São Paulo?
Por que inúmeros novos investimentos estão sendo feitos naquela cidade?
Por que a cada dia pessoas ficam mais “encantadas” com a cidade antes considerada uma cidade “triste”, “feia”, “pobre”, “pra baixo”?
Desde que assumiu a Prefeitura, o atual prefeito Renato Amary demonstrou uma enorme preocupação estética com Sorocaba. Arrumou os canteiros das principais avenidas, restaurou monumentos históricos, iluminou prédios, pontes e viadutos, construiu praças com extremo bom gosto, construiu parques centrais onde as pessoas são incentivadas a caminhar, a praticar exercícios físicos de condicionamento saudável, etc. A própria forma de trajar-se do atual prefeito sempre de terno escuro e gravatas de bom gosto trouxe para Sorocaba efeitos não-lineares que o menos estudioso ou menos observador ou menos afeito às ciências sociais não consegue enxergar e menos ainda compreender.
Tenho encontrado empresários de São Paulo e outras cidades visivelmente impressionados com a Sorocaba atual. Perguntam-me a todo instante:
“- O que aconteceu com Sorocaba?”.
Um grande empresário que está transferindo suas empresas para Sorocaba disse-me que estava para escolher entre várias cidades. E como sempre fazem as grandes empresas que necessitam mudar seus funcionários com familiares para um novo local, alugou ônibus em vários fins de semana e pediu aos diretores, gerentes e familiares que visitassem essas cidades e dessem suas opiniões.
“- Sorocaba ganhou disparado!” disse-me o empresário. As avenidas, os jardins, o shopping, os parques, as lojas iluminadas, os bares, a vida noturna tudo simplesmente “encantou” o meu pessoal, emendou ele. E quando souberam que a cidade tem uma orquestra sinfônica, um belíssimo teatro, bons cinemas e restaurantes, a escolha ficou irreversível. “Embora o terreno que tínhamos em vista em Sorocaba fosse o mais caro e de mais difícil negociação, não tivemos como não optar por Sorocaba”.
Amigos e clientes ficam curiosos em saber a razão de eu morar em uma chácara em Sorocaba sem ter clientes naquela cidade. Tenho convidado amigos empresários para que nos visitem em finais de semana e ficam todos simplesmente boquiabertos com a mudança estética que percebem. Até os jardins das casas estão mais bem cuidados porque a Prefeitura tem dado o exemplo em cuidar das áreas públicas. As lojas estão mais bonitas, pintadas, iluminadas, porque a Prefeitura vem dando o exemplo de cuidar melhor do patrimônio público e do meio-ambiente. E opiniões como essa vêm se repetindo dia após dia.
Assim, empresas, empresários e executivos de São Paulo estão pensando seriamente em mudar-se para o interior que vem sendo esteticamente valorizado pelas administrações municipais mais lúcidas e competentes como em Sorocaba.
Como nas cidades, a mesma realidade precisa ser compreendida para a empresa.
E a valorização estética na empresa ultrapassa os limites do ambiente físico e deve abranger a “ética” , as “boas maneiras” , a “polidez”, atingindo aspectos de valorização da cultura, da educação, das artes, da música.
Um dos grandes exemplos mundiais da valorização estética e sua importância para o sucesso empresarial é a Disney. A atenção aos detalhes na valorização estética em tudo é um dos pontos fundamentais da fórmula do sucesso Disney.
É preciso compreender que a valorização estética não é dinheiro “jogado fora”. É “investimento!” Ela traz e somente ela poderá trazer de volta a auto-estima necessária para nossos funcionários, nossos clientes e trazer até efeitos incrivelmente benéficos para a nossa “marca”. E “belo” não significa necessariamente “caro”. “Belo” não significa necessariamente “supérfluo”. Pelo contrário, a valorização estética aumentando a nossa auto-estima, aumenta o nosso comprometimento com a empresa, aumenta o nosso prazer em trabalhar e viver e o nosso orgulho em representar uma marca e pertencer a uma empresa que compreende a importância da valorização estética, do belo, do bom e do que nos faz “seres humanos”.
Você empresário, pense nos detalhes estéticos da sua empresa. Não estará a sua empresa “embrutecida” pelo descuido dos detalhes estéticos? Como estão os jardins? Como está a pintura? As cores são alegres, induzem limpeza? O ambiente interno é agradável? Os veículos são limpos e cuidados? Como é a iluminação interna e externa? Os ambientes são claros, bem iluminados? O café é bom? As xícaras são bonitas? Os móveis são confortáveis e de qualidade? Como é o refeitório dos funcionários? E como são os banheiros? Os luminosos da fachada estão com todas as lâmpadas acesas? Estão limpos?
Faça você mesmo o seu check list e lembre-se da importância dos efeitos não-lineares da valorização estética para sua empresa.